Visão Histórica
Ir à Europa faz retornar à minha mente que coexistem dentro de mim três visões: a européia, a ameríndia e a africana.
Uma, a européia, faz-me ver o mundo segundo o intelectual que sou. Outra, a ameríndia, dá à minha sensibilidade um olhar todo próprio ao meu local de origem. E outra, ainda, aflora a minha vida sacerdotal, com um olhar voltado para a África.
A Europa e sua visão de mundo tornaram-me o ser profissional e intelectual que sou: que quando ando pelas ruas dos países europeus, sinto que estou passeando por páginas de livros já estudados. Leituras que formaram e fortaleceram uma vida intelectual que dentro de mim, pulsa. Mas que não está separada da formação cultural do local onde nasci, cresci e me tornei homem: a ameríndia amazônida. Também não é distinta da religião que escolhi: o culto dos orixá, que me aproxima dos africanos.
Eu sou tudo isso junto, uma mistura que formou e transforma constantemente o homem que me tornei: ocidental por formação e filiação, mas que reafirma a todo o momento o olhar e o conhecimento adquirido através das culturas tradicionais com as quais tive contato. Mais ainda: a sensibilidade adquirida pela religiosidade dos orixá faz emergir a ancestralidade trazida pelos africanos que para cá foram trazidos e junto de si trouxeram seu patrimônio simbólico, oferecendo a nós uma visão de mundo diferente da dos europeus.
Eu sou um Bàbálorixá branco, filho de português e amazônida.
Imagino que não sou afro-descendente por acaso, pois a cada dia sinto a necessidade de estar mais e mais voltado para a minha raiz religiosa, visto que, o convívio com as divindades africanas, me realiza enquanto crente praticante dessa religião que me completa.