As diferentes etnias africanas chegaram ao Brasil em distintos momentos, predominando os Bantus até o século XVIII e depois os Sudaneses, sempre ao sabor da demanda por mão-de-obra escrava que variava de região para região, de acordo com os diferentes ciclos econômicos de nossa história, e do que se passava na África em termos do domínio colonial europeu e das próprias guerras inter-tribais exploradas, evidentemente, pelas potências coloniais envolvidas no tráfico de escravos. Nas últimas décadas do regime escravista, os sudaneses Yorubás eram preponderantes na população negra de Salvador, a ponto de sua língua funcionar como uma espécie de língua geral para todos os africanos ali residentes, inclusive os Bantus. Nesse período, a população negra, formada de escravos, negros libertos e seus descendentes, conheceu melhores possibilidades de integração entre si, com maior liberdade de movimento e maior capacidade de organização.

O cativo já não estava preso ao domicílio do senhor, trabalhava para cliente como escravo de ganho, e não morava mais nas senzalas isoladas nas grandes plantações do interior, mas se agregava em residências coletivas concentradas em bairros urbanos próximos do seu mercado de trabalho.

Foi quando se criou no Brasil, no momento em que tradições e línguas estavam vivas em razão de chegada recente, o que seja talvez a reconstituição cultural mais bem acabada do negro no Brasil, capaz de preservar-se até os dias de hoje: a religião afro brasileira.

Assim, em diversas cidades brasileiras da segunda metade do século XIX, surgiram grupos organizados que recriavam no Brasil cultos religiosos que reproduziam não somente a religião africana, mas também outros aspectos da sua cultura na África.

Nascia a religião afro brasileira que denominaram de candomblé, primeiro na Bahia e depois pelo país afora, tendo também recebido, como já disse, nomes locais, como Xango em Pernambuco, tambor de mina no Maranhão, batuque no Rio Grande do Sul. Os principais criadores dessas religiões foram negros das nações Yorubá ou Nagô, especialmente os provenientes de Oyo, Lagos, Ketú, Abe okutá e Ikiti, e os das nações Fon ou Jeje, sobretudo os Mahi e os Daomeanos. Floresceram na Bahia, em Pernambuco, Alagoas, Maranhão, Rio Grande do Sul, e, secundariamente, no Rio de Janeiro.

Simultaneamente, por iniciativa de negros Bantus, surgiu na Bahia uma religião equivalente às dos Jeje e Nagô, conhecidas pelos nomes de candomblé angola e candomblé congo. A modalidade Bantu lembra mais uma transposição para a língua e ritmos Bantu das religiões sudanesas, do que propriamente cultos Bantu da África Meridional, tanto em relação ao panteão de divindades e seus mitos como no que respeita &aagraves cerimônias e aos procedimentos iniciáticos, mas tem características que fizeram dela uma contribuição essencial na formação do quadro religioso afro brasileiro: o culto ao caboclo.